É por isso que você nunca deve beijar uma pessoa falecida, segundo médicos

O Último Adeus: Por Que Beijar uma Pessoa Falecida é um Risco à Saúde

A perda de um ente querido é um dos momentos mais difíceis e dolorosos da vida. Em meio ao luto, o impulso de oferecer um último beijo ou um toque carinhoso é uma expressão natural de amor, saudade e despedida. No entanto, por mais que esse gesto seja carregado de significado, especialistas da área da saúde e tanatopraxia fazem um alerta importante: o contato físico direto com uma pessoa falecida pode apresentar riscos biológicos significativos.

Compreender os processos que ocorrem no corpo após a morte não diminui o sentimento, mas oferece uma perspectiva de cuidado essencial, tanto para a saúde do indivíduo enlutado quanto para a saúde coletiva. Este artigo explora as razões científicas por trás dessa recomendação, detalhando os perigos e oferecendo alternativas seguras para uma despedida digna e amorosa.

A Transformação do Corpo e a Proliferação de Microrganismos

Logo após o falecimento, o corpo humano inicia um processo natural e acelerado de decomposição. Com a cessação das funções vitais, como a circulação sanguínea e a respiração, os sistemas de defesa do organismo são desativados, transformando o corpo em um ambiente propício para a proliferação de bactérias, fungos e outros microrganismos.

O Início da Decomposição

As bactérias que naturalmente habitam nosso corpo, especialmente no trato intestinal, começam a se multiplicar sem controle e a migrar para outros tecidos. Esse processo, chamado de autólise e putrefação, libera gases e fluidos que podem carregar uma alta carga de patógenos. A temperatura do corpo também se altera, criando condições ideais para o crescimento de diferentes colônias de microrganismos.

Agentes Infecciosos na Superfície da Pele

A pele, que em vida funciona como uma barreira protetora, torna-se permeável e um local de acúmulo de bactérias. O corpo pode ter passado por diversos ambientes antes do velório, como hospitais, necrotérios e a própria funerária, locais onde pode ter sido exposto a diferentes agentes infecciosos. Alguns dos microrganismos que podem ser encontrados incluem:

  • Staphylococcus aureus: Bactéria comum que pode causar desde infecções de pele até condições mais graves como pneumonia e meningite.
  • Coliformes fecais: Originários do intestino, podem causar infecções gastrointestinais severas.
  • Pseudomonas aeruginosa: Conhecida por sua resistência a antibióticos, pode causar infecções hospitalares graves.
  • Fungos: O ambiente úmido da decomposição favorece o crescimento de fungos que podem causar micoses e reações alérgicas.

Vírus e Patógenos que Podem Permanecer Ativos

Além das bactérias do processo de decomposição, o corpo pode abrigar vírus e outros agentes infecciosos que a pessoa portava em vida. A sobrevida desses patógenos varia muito, mas alguns podem permanecer viáveis por horas ou até dias após a morte, representando um risco de contaminação.

Vírus com Potencial de Transmissão

Doenças infecciosas são uma preocupação real. Fluidos corporais como sangue, saliva ou secreções podem conter vírus ativos. Embora o risco de transmissão por um beijo ou toque seja geralmente baixo, ele não é inexistente. Vírus como os da Hepatite B e C podem sobreviver por um tempo considerável em superfícies e fluidos. O vírus H1N1 também pode representar um risco. É importante notar que, embora o HIV possa estar presente, seu risco de transmissão por contato casual com a pele intacta é praticamente nulo, pois o vírus é extremamente frágil fora do corpo.

O Perigo Duradouro dos Príons

Um caso especial e mais alarmante é o dos príons. Estas são proteínas infecciosas anormais, extremamente resistentes a processos de desinfecção e que podem permanecer ativas no tecido nervoso por anos após a morte. Eles são responsáveis por doenças neurodegenerativas fatais, como a Doença de Creutzfeldt-Jakob. O contato com tecido cerebral ou da medula espinhal é a principal via de transmissão, mas a cautela é recomendada em qualquer circunstância.

A Vulnerabilidade de Quem Está de Luto

O risco de infecção não depende apenas da presença de patógenos no corpo do falecido, mas também do estado de saúde da pessoa enlutada. O luto é um período de intenso estresse emocional e físico, o que impacta diretamente o sistema imunológico.

Imunidade Comprometida pelo Estresse

O sofrimento profundo e o estresse liberam hormônios como o cortisol, que, em níveis elevados e constantes, suprimem a capacidade do sistema imunológico de combater infecções. Isso significa que uma pessoa em luto está naturalmente mais vulnerável a contrair doenças. Um simples resfriado pode se tornar algo mais sério, e a exposição a bactérias presentes no ambiente do velório ou no corpo pode levar a uma infecção que, em outras circunstâncias, o corpo combateria facilmente.

Portas de Entrada para Infecções

O contato direto, como um beijo na testa ou nas mãos, pode transferir microrganismos para a pele da pessoa viva. Se essa pessoa tiver um pequeno corte, uma ferida ou mesmo pele ressecada com microfissuras, esses se tornam portais de entrada para bactérias. Além disso, o gesto instintivo de levar as mãos ao rosto, olhos, nariz ou boca após o toque aumenta drasticamente o risco de contaminação por mucosas.

O Papel da Tanatopraxia na Redução de Riscos

A tanatopraxia é um procedimento de preparação do corpo que visa higienizar, conservar e restaurar a aparência da pessoa falecida para o velório. Este processo é fundamental para a saúde pública, pois ajuda a minimizar os riscos de contaminação.

Como a Preparação Ajuda?

Durante a tanatopraxia, o corpo é desinfetado externamente e fluidos corporais são substituídos por uma solução química conservante e desinfetante. Isso retarda a decomposição e reduz significativamente a carga de microrganismos. O procedimento torna o velório mais seguro para todos os presentes.

Por Que o Cuidado Ainda é Necessário?

Apesar de sua eficácia, a tanatopraxia não esteriliza completamente o corpo. Patógenos mais resistentes podem sobreviver ao processo. Portanto, mesmo em um corpo preparado, a recomendação de evitar o contato físico direto, especialmente com o rosto e as mãos, permanece como a prática mais segura.

Alternativas Seguras para uma Despedida Significativa

A necessidade de se despedir é legítima e fundamental para o processo de luto. Felizmente, existem muitas maneiras de expressar amor e respeito sem se expor a riscos desnecessários. O foco deve ser honrar a memória e encontrar conforto em gestos simbólicos.

Formas de Homenagem Sem Contato Físico

Encontrar maneiras alternativas de canalizar o desejo de conexão pode ser reconfortante e igualmente poderoso. Considere as seguintes opções:

  • Tocar suavemente no caixão: Este gesto permite uma conexão física simbólica sem o contato direto com o corpo.
  • Escrever uma carta de despedida: Colocar os sentimentos no papel e deixar a carta junto ao ente querido é uma forma íntima e segura de comunicação final.
  • Compartilhar memórias em voz alta: Falar perto do corpo, contando histórias ou simplesmente dizendo adeus, pode ser uma experiência catártica.
  • Levar uma flor ou um objeto pessoal: Deixar um item de significado junto à pessoa amada é um ato de carinho e memória.
  • Focar no apoio mútuo: Abraçar e confortar outros familiares e amigos presentes fortalece os laços e ajuda a processar a dor coletivamente.

Em última análise, a decisão de como se despedir é profundamente pessoal. No entanto, estar ciente dos riscos e optar por práticas mais seguras é um ato de cuidado consigo mesmo e com os outros, permitindo que o foco permaneça na celebração da vida que foi vivida e no processo de cura do luto.

 

Meta descrição: Saiba por que médicos e especialistas alertam para não beijar ou tocar em pessoas falecidas. Entenda os riscos de infecção e como se despedir com segurança.

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